Sunday, December 20, 2009


Ao André Pereira
(Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada
Agora não espero mais aquela madrugada
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser faca amolada
O brilho cego de paixão e fé, faca amolada
Deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo
Deixar o seu amor crescer e ser muito tranquilo
Brilhar, brilhar, acontecer, brilhar faca amolada
Irmão, irmã, irmã, irmão de fé faca amolada
)


Dessas coisas que a gente não explica, igual quando acorda sem vontade de tomar uma cerveja mesmo com o cheiro de feijão na panela e o freezer cheio de latinhas geladas. Mesmo com o sol, que a gente quer tanto que saia para não morrer de tédio. Mesmo com uma piscina gostosa e amigos fumando cigarro. Nem vontade de fumar deu. Deu vontade de dormir em silêncio e as risadas só podem ser motivos de aborrecimento se elas vierem de pessoas completamente felizes e moralistas. O que não era, você bem sabe, o caso. Bem, sim, talvez um pouco. Mas isso é papo de mais pra frente, e você uma vez me disse que não tinha pressa em me conhecer melhor, eu aceito. Vamos deixar pra lá. Não tenho muito que dizer, e geralmente um bilhete é só um aviso. Estou aqui avisando que vou-me embora pra Pasárgada , lá eu sou amiga do rei. Estou dizendo o seguinte: se acaso sentirem minha ausência, eu fui porque não tive paciência. Já é Natal, não? Fico sempre esquisita nesta época do ano, e eu sei por quê. Mas não foi só isso. Também tentei ver meus motivos, mas eles se escondem, depois fazem ciranda, fico meio perdida. Tentei ver se por acaso era a primeira vez que isso me acontecia. Resgatei memórias de que por vezes eu me isolo mesmo e gosto de ver a interação, sem interagir. E tenho sono, muito sono. E não gosto de ser julgada por ter sono. Essa coisa da sociedade moderna de pôr ao sono uma negatividade como se dormir não fosse viver. E bem, sabe, André, eu até que vivo muito. Respeitem, por ora, meu sono, minhas esquisitices. -Obviamente que eu não iria lhes pedir isso-. E foi difícil ir embora. Não porque eu estaria na dúvida se ia ou não, difícil foi ficar pensando sobre o que vocês conversariam de minha atitude. Desculpem, sou péssima. Mas cheguei bem. Aqui, as energias eram outras. Tive uma noite muito boa e, pela manhã, uma discussão infame que dura até agora. Estou com fome e logo mais é Natal. Atente ao fato de que, ali, você e aquela morena querida são meus horizontes. Mas um certo ostracismo também habitava, por medo, por raiva de mim mesma, não consegui combatê-lo. Nem sempre gosto do que o espelho me reflete e saio fugida porque gosto de dar de cara comigo mesma sem ser avisada. Tenho um pedido ao Papai Noel: que ele me enfie dentro daquele saco vermelho dele e me leve ao Pólo Norte. É lá que ele mora?
Feliz Natal, faca amolada, meu querido amigo.

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