Monday, October 05, 2009

Cinco atos de amor

Primeira pessoa:

Desculpe eu ser essa mulher confusa que ora se faz de moderna e ora quer carinhos do além. Eu sei que você não deve ter entendido nada meu jeito carente como se eu fosse me tacar da janela e não conseguisse pronunciar com pleno conhecimento, minhas últimas palavras. Sabe, eu sou um problemão daqueles sem sentido e solução e ando muito sozinha querendo ter alguém na vida que me ame pra valer.
A cada momento, penso que achei um. Construo meu castelo de areia, tão grande e bonito, mas como você tem visto, o tempo no Rio anda uma merda e meu castelo não para em pé. Você me acha muito maluca? Eu estava com uma ressaca desgraçada, daquelas de precisar desabafar. Eu mesma não entendi o nexo da maioria das coisas que lhe falei. E lá no fundinho, sei que não é comigo que você vai ficar, mas eu adoro cavar buracos e morrer de amor, porque estranhamente isso me dá gás. Além do mais, se eu tentar mais um pouco, logo mais é verão. Quem sabe ai, o tempo não firme, fazendo com que meu castelo de areia não desmorone tão rápido.


Segunda pessoa:

Você ainda mora aqui dentro. Só não sei onde deve estar, em que parte do corpo, em que órgão vital. Também não sei se você é um vírus ou uma bactéria, ou então uma alergia forte e boa de coçar. Sei que você entrou pelo coração e de lá de dentro se transformou em um besouro barbeiro. Mas eu tenho sopro e bem devagarzinho te expulsei, como quem assopra uma ferida para não arder. Não sei mais onde você mora. Mas ando querendo que você vire uma lágrima e que me deixe, no meu próximo suspiro.


Terceira pessoa:

Eu lhe mandei um e-mail bobo outro dia e você não me respondeu. Mas depois, vi seus muros se levantarem e seu exército se armar, caso eu chegasse mais perto. Então, pude constatar que você nunca me esqueceu. Eu tenho curiosidade de saber como anda sua vida maluca e também, curiosidade para saber como você pôde me amar tanto.
Gostaria realmente que você realizasse uma palestra para que todos meus homens me amem tanto quanto você. Se puder quebrar essa, entre em contato!


Quarta pessoa:

É claro que se eu ficasse com você, seria por vingança, juro, eu sei, é ridículo isso. Mas se no meio deste meu gesto infantil surgisse algo de bom, eu iria adorar. Ontem nos conversamos horas e demos risadinhas e olhares de razão,um sobre o outro. Mas você também anda armado. Eu sei porque te revistei. Agora ando confusa e mais louca sobre como te proceder. Mas olha só, caso a gente fique, por favor, se apaixone. E admita isso segurando em minhas mãos, sentado em uma cadeira de plástico de um buteco qualquer, olhando pra mim, morrendo de vergonha.
Pode ser? Eu iria amar você e até namorariamos. Você iria sofrer e nossa relação seria doentia.


Quinta pessoa:

Quero te falar uma coisa:
você é estranho e eu não te conheço. Não tenho a mínima vontade de te ligar e nem dei google no seu nome para saber mais da sua vida. Você é gostoso e pouco inteligente. E eu fico imaginando como deve ser seu pai, já que você me contou que ele é mórmon. Mas acho que é só.
Desculpe.



Isabel Crozera

3 comments:

Você sabe quem said...

Me identifiquei com o primeiro. Vou levar. Quero ser ele na brincadeira de Playmobil.
Ou outros são meio chatos. Falta humor.


Ronaldo

-Isabel Crozera- said...

querido,
vc pode ser quem quiser na brincadeira do playmobil...e tb, o dono das minhas palavras, no primeiro texto, jamais vai saber!
hihihi

bjos

J.L.Tejo said...

Gostei do nº 4. Declarações de amor em buteco são a minha cara. E isso de relações sofridas é totalmente lírico. Já o nº 5 foi brilhante, a ruptura com todo o clima romântico anterior.

Quanto ao texto das Olimpíadas, claro, fique à vontade.