Saturday, February 21, 2009

Aí eu me desesperei
E a coisa virou confusão
No salão
Porque lembrei
Do seu sorriso aberto
Que era tão perto, que era tão perto
Em um carnaval que passou
Porque lembrei
Que esse frevo rasgado
Foi naquele tempo passado
O frevo que você gostou
E dançou e pulou

Foi quando topei com você
Que a coisa virou confusão
No salão
Porque parei, procurei
Não encontrei
Nem mais um sinal de emoção
Em seu olhar

A coisa virou confusão
Sem briga, sem nada demais
No salão
Porque a bagunça que eu fiz, machucado
Bagunça que eu fiz tão calado
Foi dentro do meu coração

Porque a bagunça que eu fiz, machucado
Bagunça que eu fiz tão calado
Foi dentro do meu coração

Tuesday, February 17, 2009


Uma folha revirando surpresas,
grudada no suor de um tronco antigo,
é a palma estampada num quadro na sala de estar.
Nada resume ou divide a saudade do meu velho.
O meu velho engaiolava as horas na sacada e
soltava sobre mim um passaredo de instantes infinitos.
Eu alimentava os momentos com a mão,
enquanto eles cantavam e sacudiam as asas.
Meu velho sabia capturá-los. Meu velho sabia das coisas.
Meu velho era uma tocha fincada no meu vazio
e eu jamais precisei procurá-lo.
Meu velho era onipresente. Ele tinha voz de deus.

Meu velho tinha o coração vermelho,
e uma sangria desatada pelas aflições do mundo.
Ele era pelos vagabundos.
Meu velho era do balcão. Ele sabia entardecer.
Meu velho era bom de viver.
Meu velho tinha uma lei e que foi desrespeitada.
Mas não há de ser nada.
Tentaram me arrancar do meu velho.
Me encheram de falsas sequelas.
Eles não sabem que o meu velho é uma estrela
que vem pousar todas as noites na minha janela.


Renato M.

Monday, February 16, 2009


“O mundo é muita sacanagem por fora e muito estranho por dentro”

Foi isso que eu ouvi ao querer sair fora daquele buteco imundo ao pensar mais uma daquelas minhas tolices de alguém que consumiu cerveja por demais.
Eu estava a caminho de casa quando um garoto me apareceu perguntando para onde eu ia.
Pra casa, respondi. E ele disse; deixe-me te acompanhar, estou aflito, querendo conversar contigo.
Achei melhor sim. E nós fomos conversando e ele me contou sobre seus interesses e sobre suas iniciativas e seu futuro. Estávamos descendo a Cardial. E eu disse; isso não é interessante. Você, não é interessante. E ele disse pra mim; não olhe para trás agora, não olha!
E eu olhei, mas não enxerguei nada, sou miupe, bêbada, me faço de vítima, sou podre, insegura. Não olhei quem era.
E hoje tem um olhar que desconfia tudo errado, de minhas probabilidades. Acho que era o olhar que eu não enxerguei. Talvez estivesse como eu, cega também. Cega de horrores desses que fazem a gente insistir na lama, na luta insana.
Igual quando dizem que se uma torcida organizada fosse organizada para outras coisas, atos nobres, o mundo seria melhor.Balela!
Eu tomei chuva e peguei ônibus no largo da batata. Nossa conversa foi longe e nada produtiva. Eu voltei pensativa, me sentindo estranha. Ele voltou para sua vidinha de garotinho família e o domingo chegou.

Caia uma chuva estranha e minha garganta arranhava ainda coisas da noite passada. Um gosto ridículo de cigarro na boa, uma sede filha da puta e eu nem tenho seu telefone para lhe dizer que você é uma criança louca. Que você me deixe quietinha e que era muito legal quando éramos pessoas bêbadas cantando samba. Agora você fez climinhas, ataques maluquinhos. E minha ressaca por culpa dos versos bem rimados, mal rimados, que vieram de você, não chegaram ao meu coração.

Friday, February 13, 2009


Sempre serei criança para muitas coisas, mas dessas crianças que trazem em si o adulto desde o princípio, de maneira que quando o monstrinho vira realmente adulto acontece que este por sua vez traz em si a criança, e nel mezzo del camin se dá uma coexistência poucas vezes pacífica de ao menos duas aberturas para o mundo.
Isto pode ser entendido metaforicamente, mas de qualquer modo indica um temperamento que não renunciou à visão pueril como preço da visão adulta e essa justaposição que caracteriza o poeta e talvez o criminoso e também o cronópio e o humorista (questão de dosagens diferentes, acentuação paroxítona ou proparoxítona, de escolhas: agora eu jogo, agora eu mato) se manifesta no sentimento de não estar totalmente em qualquer das estruturas, das teias que a vida constrói e onde somos ao mesmo tempo aranha e mosca.

Julio Cortázar,mestre

Thursday, February 12, 2009


E o mundo continua me cobrando atenção. Ele me joga na cara histórias lindas, feitas de lágrimas e ouro e cá eu estou. Os loucos também sobrevivem, as mulheres tristes, fardadas a infelicidade, também sobrevivem, o pobretão trabalhador, também. No meu país, na insalubridade, as pessoas sobrevivem. E eu me invoco no meu nada, com tantos “tudos” para fazer. Eu me provoco, eu deslizo, eu não fecho a porta para abrir outra. Eu me assusto fácil demais, como se um urso pudesse me comer a cada segundo.

Tuesday, February 10, 2009

Deu meia-noite e meia
Tem lua cheia pra alumiar
Do céu a estrela branca
Que cai, destranca
O portão do mar

Deixa a camisa fina
Da lamparina
Se encandiar
Que a luz do candeeiro
Faz o coqueiro
Se enfeitiçar

A onda é de ensurdecer
A brisa é de amenizar
Tem qualquer coisa de arrepiar

A lua é de endoidecer
O azul é de admirar
O céu é o espelho de Iemanjá

Em noite assim
As sereias costumam bordar
Rendas de prata
De estrelas caídas no mar
No manto de Janaína
Só faço o que gosto
E aquilo que creio
E se alguém não quiser entender
E falar, pois que fale
Eu não vou me importar com a maldade de quem nada sabe
E se alguém interessa saber
Sou bem feliz assim
Muito mais do que quem já falou ou vai falar de mim

Monday, February 09, 2009


A face de horror daquela causalidade.
E até quando eu vou recorrer as letrinhas catadas para exprimir em toscas frases o sentindo de coisas que não vejo.
O sebo deste papel esdrúxulo.
O sebo da alma de cada cabeça pensante
Exprime agora o que eu quero ser.

Sunday, February 08, 2009



Eu amo Banksy
-ops-

Saturday, February 07, 2009


“Nos dias de hoje
O samba ficou diferente
Não tem mais dolência
Mudou a cadência
E o povo nem sente
Sua melodia
É uma falsa alegria
Que passa com o vento
Ninguém percebeu
Mas o samba perdeu
Sua voz de lamento.”


O lamento se perdeu nas muitas regras, nas muitas lutas, nas muitas “atitudes” o samba perdeu a suavidade, a alegria. O samba virou um diz que me disse cheio de regras confusas de alguém que disse isso, de outro intocável que disse aquilo. E pensar que ao fazer uma imitação da velha guarda da Portela, tudo tinha que ser tão mais descontraído e não um sentimento de estranho orgulho por estar cantando músicas “inéditas”, fodas, que ninguém jamais saberá cantar. Um samba elitista. Uma pena de samba

O lamento se perdeu na falsa alegria que passa com o vento de uma classe média que apenas procura onde enfiar a cara para se conciliar com um movimento que nunca os pertenceu. É, nos dias de hoje o samba ficou diferente. Começa em uma noitada onde tudo que se cria, termina no vômito de quem bebeu demais.