Tuesday, December 16, 2008


-Certamente alguém contara este fato melhor que eu. Mas a escrita se fez compulsa em mim, sem ao menos verificar antes se eu a faria com destreza.-

Ele era um assassino. Quem mata alguém na porrada, é um assassino? Quantos são os nomes que podemos dar as coisas facínoras que acontecem no mundo, da qual a natureza humana excluiu como comportamento normal?
Ele era um assassino. Foi assim que o chamaram quando ele matou aquele homem na porrada. Motivo, não teve. O motivo era favas. Que cor é sua camisa? Verde. Não gosto. Gosto de branco, matem aquele cara. E uma vida inteira, dessas igual a nossa, toda infinita, foi-se embora naquele momento. E o assassino, seguiu-se assassino.
Um belo dia lamentou tudo isso e pulou da cama querendo lavar a mancha de sangue que tinha em sua alma, mas nada ali removia. E ele seguiu com essa dor por anos. Mudou de vida, de mulheres, de amigos, focou suas especialidades em outros nós e foi muito bom no que fez. Mesmo com a dor que picava, principalmente a noite, quando uma lembrança impedia que seus sonhos fossem a diante.Odiava-se por ter feito parte daquilo e agora sentia uma estranha-nojenta saudades, de correr, de matar, de vomitar as tripas do mundo aos olhos de quem quisesse ver. Por que as tripas do mundo não podem ser escondidas.
Dormiu engolindo lembranças, viveu trocando hábitos, deixando a veia para trás, tomando doses diárias de um mundo que não era o dele. Que era o meu.

E é aí que eu entro neste conto. Eu vivia sentadinha de perna de índio na vitrine da realidade. Curiosa, vendo o assassino. Ele era o herói que meus contos de fadas jamais permitiram contar. Ele era muita coisa que sempre tinha a palavra “cuidado” atrás.
Eu sou a menina mais medrosa do mundo. Eu me arrisco tão pouco, que sempre dói muito toda essa cautela. O assassino inveja isso. Eu invejo o assassino.
Tempos atrás, ele veio me procurar e me pôr na parede sobre causos de uma vida nada. Sobre besteiras daquela que se diz quando se bebe trocentas cervejas na esquina de um bar. Ele não esbravejou. Não disse ao menos, um palavrão. Enquanto eu, do outro lado, medrosa, gritava perguntando se ele era Deus.Falou cada palavra num tom meigo, nem parecia que estava me odiando por eu não estar seguindo suas regras. Contou-me parte de sua correria excluindo todo seu passado mais bonito. E eu já estava sentadinha, esperando ele me contar historias de perna de índio.

-O assassino queria me roubar.-
O assassino me roubou. Roubou tudo aquilo que ganhei, que usufrui, tudo aquilo que me formou. Roubou meu amor pela poesia, pelo violão sete cordas daquele homem. Ele me roubou e disse bem assim: “você não entende nada disso”.
Como se isso não fosse minha vida, assassino, como se isso não me pertencesse, desde o dia que eu nasci.
Sabe de uma coisa? Tire tudo de mim. Dispa-me de todas minhas ridículas injurias, de meus legados fodidos. Jogue na minha cara meus medos. Conte-me com razão, sua razão. Mas jamais, assassino, jamais tente me roubar a poesia. Essa sim bateu a porta de minha casa, bem antes de você as sabe-las.Quando você me conta um verso, assassino, eu vomito a poesia inteira.

(Sabe de uma coisa? Tenho lutado para saber também.)

8 comments:

Unknown said...

Como reza a máxima cunhada pelo grande filósofo grego Piráclito de Falos (220 AC / 110 AC):
"A rapadura é doce ..."

Anonymous said...

Olá Bebel!
Passando pra desejar um Ótimo Natal!
Beijos

-Isabel Crozera- said...

olá, mas quem seria vc?

-Isabel Crozera- said...

escaravelho
quero ler seu blog literatura para comer mulher, me aceita lá vai?

Anonymous said...

Ah...
Eu sou uma leitora sua, sempre que dá dou uma passadinha por aqui. Mas você não me conhece! =)
Gosto dos textos que escreve. Escreve muito bem! Parabéns!

Beijos

-Isabel Crozera- said...

Hehehe, nossa...
obrigada!

Bjos

Anonymous said...

Ah, não tem de que!

Só não deixe de escrever. Faz bem!

Unknown said...

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