Monday, November 03, 2008


Sexta-feira rolou uma avaliação no curso de gastronomia do qual estou cursando e adorando, diga-se de passagem, e o Chef disse palavras muito interessantes ao meu respeito; Isabel, gosto muito do seu trabalho, apesar de ver traços de desorganização, mas isso é o seu jeito, ta tudo beleza, só precisa tomar cuidado. No mais, tudo maravilha, você é pau pra toda obra, se relaciona muito bem com todos, esta sem muito bem disposta e tem tido bom resultado, seus feitos por aqui.

Sai de lá dando risada. Foi a primeira vez que eu ouvi alguém dizer que eu sou muito disposta. Que eu sou pau pra toda obra, também não sabia, mas adorei saber. Já minha desorganização, putz, isso eu ouvi a vida inteira. Ela é fruto de minha acentuada vezes nove mil, ansiedade. Aliais, parando para fazer um balanço, não há quase nada de bom neste meu distúrbio ansioso, e putz, já vou dizendo, tratar dela não é nada fácil. Já passei por inúmeras tentativas, desde de remédio, terapia, mudanças bruscas de vida, e ela, insiste em tomar fermento, crescer, explodir, me atirar para todos os lados, fazer de mim corredora da vida, às pressas, sem jeito, metade louca, metade mulher.

Porém, e sempre tem um, porém, ultimamente, tenho ficado muito ansiosa, como de praxe, mas também muito tranqüila, com a vida calma, com o coração carinhosamente calmo, com vícios moderados, e o melhor, tenho ficado disposta. Sim. Essa palavrinha querida usada pelo Chef para me avaliar, coube direitinho neste meu momento e eu fiquei feliz de ouvir isso de outra pessoa.
É bom acordar cedo, ter mil atividades, fazer coisinha, namorar, tomar cervejinha, gostar de ver a sexta-feira chegar, encontrar os amigos, ouvir um samba, fazer comidinhas. É bom alugar um filme, mas não quinhentos filmes e ficar o dia inteiro na frente da TV. Falando nela, minha TV, dia desses, queimou. É, pifou, apagou de vez, não liga mais. Aí eu penso que tudo tem seu tempo, num processo louco e maluco. Quem me conhece sabe de minha miopia, sabe como eu ficava com a cara grudada sentindo o calor da TV na minha cama vendo as horas passarem sem nenhuma disposição para atacar o mundo. Então, certa vez, numa tentativa de mudança, afastei bem longe da tv do meu rosto, para o outro lado do quarto e tudo foi melhorando. Então, eis que ela morreu, longe de mim, sem que eu pudesse sentir sua falta. Morreu e tudo bem, quem precisa dela mesmo?

Eu não tenho muitas supertições, não acredito em horóscopo, nem em cartas de tarô. Mas, eu adoro fazer metáforas psicológicas do equilíbrio da minha vida, com fatos bestas que acontecem no meu cotidiano. Como o quebrar da TV, no exato momento em que eu tenho uma disposição reconhecida e um companheiro para matar meu tédio.
Além disso, conto com novas pessoas ao meu redor e com um resgate que tenho feito de antigas amizades, numa tentativa de cercar mais meu coração de pessoas queridas, que valem a pena.Já outras, as que sumiram do mapa, talvez pra sempre se percam, e talvez isso, pode ser um ato frio de minha parte, mas não me fará falta alguma. Gosto dos sentimentos transbordados, das coisas quentes e dos abraços apertados e verdadeiros. Mas gosto também do respeito. Das visitas com cigarrinhos e cervejas e de novas pessoas que o tempo encaixa na nossa trilha. E também, das velhas intimidades.

Ganhei, perdi, ganhei, perdi, perdi, ganhei, ganhei.
Muitas vezes não fui, muitas vezes eu era a peça do quebra cabeça que não encaixava em parte alguma, muitas vezes a falta de meu pai, fez com que eu caísse como quem esperava por ele no meio do escuro. Muitas vezes, era difícil ficar de pé.Literalmente. E muitas vezes também, minha cabeça funcionava a três mil por hora e eu achava que ia ser atropelada por meus pensamentos confusos, sem nexo. Muitas vezes era difícil me olhar no espelho, fazer um texto com pontuação, decorar um bolo sem pressa. Acordar e cumprir com a vida.
Hoje, muitos são feitos aos poucos, e muitos deles, com carinho também. E pela primeira vez, e quem me lê sabe disso, pela primeira vez, ai que meda, esta tudo bem...
Igual àquela frase no meu braço direito, que seu cruza-lo, vai direto ao coração.

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