Thursday, November 27, 2008


(Me desculpe e obrigada)

Desatinei na oitava nuvem do céu lilás de um dia subis calmo cintilante. Quando as borboletas laceravam entre estar vivas e se preparar para a morte. Sonhei alto, fingindo ser azul. Sonhei calmo, pois queria ser humana.
Sonhei com você dia desses. Volta e meia nos meus sonhos, somos juntos. Acordei querendo uma realidade tediosa que não me pegasse de surpresa para acasos loucos, daqueles que tanto me viciam. Você aceitou brincar de aliança logo no primeiro dia sem mesmo saber dos meus gostos. Eu não falava sua língua, mas nossas necessidades perdidas fizeram um acordo. Não foi paixão? Como saber? Abraços quietinhos e iluminações pós-coito, pós-conversas longas onde você sem duvida falava mais. Enquanto eu observava sua vida vivida em mil dias, mil horas. Um conto de fada, como você aceita a batalha da labuta, como brinca de ritmo, como adora viver.
Eu, do outro lado do mundo, me esforçando para achar tudo uma gracinha, me empenho de graça em achar vida nas pessoas dispostas. Alguém com olhos de vidro, com força de bomba, como se a realidade jamais pudesse alterar seu humor.
Enquanto eu rolava na cama com o tédio doentio que peguei desta classe média sem remédio. Nos colamos, encantados. Atrás de sonhos que jamais contaremos um ao outro: eu tenho um sonho. – Me conte. Não conto.Não sei contar.

Tuesday, November 25, 2008


Desatai o Futuro


O futuro
não virá por si só
se não tomarmos medidas.
Pega-o pelas orelhas, komsomol!
Pega-o pela cauda, pioneiro!

A comuna
não é uma princesa fantástica
com quem
de noite se sonha.

Calcula,
Reflete,
mira bem
e avança!
Embora sejam miudezas,
O comunismo
não reside apenas
na terra,
no suor das usinas.
Senão também no lar,
à mesa,
nas relações de família,
nos costumes.

Aquele que
no decorrer do dia
anda rangendo palavrões
como um eixo de carroça
ressecado,
aquele que
fica pasmado
quando geme a balalaika,
esses
não atingiram o talhe
do futuro.

Nas trincheiras
manejar metralhadoras,
não é apenas nisso
que consiste a guerra.

O ataque
à família,
ao lar,
não é para nós
ameaça menor.

Quem não agüentou
a tarefa doméstica
e dorme
no bem-bom
das rosas de papel,
esse
não atingiu o talhe
da poderosa vida
do porvir.

Qual uma peliça
o tempo também
roído
por vermes cotidianos.

Às vestes poeirentas
de nossos dias
cabe a ti, komsomol, sacudi-las!


Maiakovski [1925]

Sunday, November 16, 2008


(Eles são dois por engano. A noite corrige.)
-Eduardo Galeano

E se chover sapos, nós sairíamos correndo. E de baixo do posto de gasolina fechado, iríamos nos assustar e não acreditar. Como tudo na vida que não choca mais. Igual quando o Jornal Nacional decide qual vai ser minha próxima angustia. Igual quando o supermercado decide qual vai ser minha mais nova comida congelada preferida. E no cinema, o filme da vez, estará circulando na boca dos cults que tomam cervejinha num buteco meio limpo, meio sujo na R. Augusta. E mais tarde, vão para um sambinha se deliciar com os músicos que jamais poderão participar de suas profundas discussões sobre o crime, sobre o PCC. Afinal, cada coisa no seu lugar. Igual quando, todo dia de manhã e afinal de contas, são tantas responsabilidades como largar meu emprego ocioso e embarcar em algo que nunca me pertenceu para poder sentar lá na mesma mesa de bar, e contar, se eximindo da culpa, que faz parte do cansaço coletivo dos que na labutam perde o amor a vida.
Enquanto tudo isso me alfineta sem eu quase não perceber, me encanto com o novo e me imagino ganhando na loteria e ir de mala e tudo para aquele apartamento bem pertinho da praia,com vizinhos intelectuais e moçada supimpa. Fumo em silêncio, enquanto a discussão me pede respaldo político, pensando que um cometa poderia passar por ali. Fazendo todo mundo ficar feliz. Aí sim, seriamos todos iguais por longos 5 minutos.
Bom,
algum tempo depois, cá estou de novo para falar de minhas mais novas aquisições literárias. Hoje fui a FNAC. Nossa, eu odeio a FNAC, não sei porque. Assim como não gosto Anis, eu não gosto da FNAC. Lá tudo é caro e aparentemente você irá encontrar todos os títulos do mundo. Balela! A parte de livros é bem fraquinha e a de CD também. Além disso, da última vez que fui lá estava passando um show da Winehause na Tv hiper-mega-plus digital que tem lá pra vender. E hoje, adivinhem? O mesmo DVD, e pra aumentar a loucurinha, a mesma música! Minha mãe disse; nossa, que coincidência! Eu falei: que nada, isso já é tédio no mercado mesmo. Enfim.
Fomos para a parte de gastronomia, muitos títulos ruinzinhos e os bons, muito caros. Acabei comprando o Guia das Especiarias de Monika Viliken. E depois uma coisa bem fofuxa, umas edições de receitas que ficam dentro de uma caixinha e custam bem baratinhos. Como eu desconhecia a autoria, comprei a caixinha da salada, com 50 receitas.
Saindo dali, parando no box das promoções, vi logo de cara um dos meus novos preferidos, Eduardo Galeano com o título, Mulheres.
Eu me apaixonei pelo Galeano no Maranhão, depois corri atrás dele na internet e fui amando cada vez mais. Já dei uma lida neste livro que comprei hoje e já semi me apaixonei de novo!

Aqui vai um mini relato que esta no livro:

Rosa Maria Mateo, uma das figuras mais populares
da televisão espanhola, me contou esta história.
Uma mulher tinha escrito uma carta para ela, de algum
lugarzinho perdido, pedindo que por favor contasse
a verdade:
-Quando eu olho para a senhora, a senhora
está olhando para mim?

Rosa Maria me contou, e disse que não sabia o
que responder.

Galeano é foda!
Parece que ele respira o mundo inteiro, pelo
nariz. Igual quando eu corto cebola e percebo que o que me faz chorar é o ardido que respiro. O ar-ardido vai pro olho, que não agüenta e faz lágrimas.
Acho que o Galeano vê o mundo pelo nariz.



-será?

Tuesday, November 04, 2008



Criaremos nossos filhos, pagaremos contas pela internet, faremos amigos imaginários, pediremos licença ao passar, obrigado ao sair e filha da puta ao não concordar. Odiaremos os políticos, beberemos cervejinha. Vamos ao super, vamos ao banco, vamos ao Guarujá. Compraremos a verdadeira maionese, sorriremos para os odiáveis, amaremos os que não amamos mais, faremos cheques sem fundo, sem valor, fumaremos cigarros.
E vamos chorar ao ver um filme, vamos rir dos preços das coisas, vamos revolucionar o mundo dentro de um apartamento (bêbados), vamos buscar as crianças do colégio, levar ao dentista, brigar por causa de uma escova de dente, arremessar as crianças no escuro e lhes desejar boa noite, foda-se seus medos, foda-se suas vontades, afinal, a casa é minha o pedreiro chega as sete e a empregada esta de férias no Capão Redondo, seu filho ta cheirando pó e a mais nova gosta de Xuxa e reza sem saber, pois papai é evangélico e Maluf constrói túneis e assim vamos alugar um Dvd no fim de semana e não fazer nada e descansar, pois a segunda é uma labuta e seu chefe é um ordinário seu marido um otário seu filho só lhe traz preocupação e cabula a aula de inglês e não quer ser mais escoteiro e outro dia você achou maconha dentro das coisas dele. Mas seu vizinho não pode saber você sofre de depressão, seu carro não têm seguro, suas dividas só aumentam e você chora e nem sabe porque e domingo tem fantástico e seu marido não sabe onde é o clitóris e mesmo assim você finge e não goza você come brigadeiro e odeia sua manicura e sente inveja de algo que nunca viveu pois pra você a vida é simples é boa é legal, é um patins.

Monday, November 03, 2008


Sexta-feira rolou uma avaliação no curso de gastronomia do qual estou cursando e adorando, diga-se de passagem, e o Chef disse palavras muito interessantes ao meu respeito; Isabel, gosto muito do seu trabalho, apesar de ver traços de desorganização, mas isso é o seu jeito, ta tudo beleza, só precisa tomar cuidado. No mais, tudo maravilha, você é pau pra toda obra, se relaciona muito bem com todos, esta sem muito bem disposta e tem tido bom resultado, seus feitos por aqui.

Sai de lá dando risada. Foi a primeira vez que eu ouvi alguém dizer que eu sou muito disposta. Que eu sou pau pra toda obra, também não sabia, mas adorei saber. Já minha desorganização, putz, isso eu ouvi a vida inteira. Ela é fruto de minha acentuada vezes nove mil, ansiedade. Aliais, parando para fazer um balanço, não há quase nada de bom neste meu distúrbio ansioso, e putz, já vou dizendo, tratar dela não é nada fácil. Já passei por inúmeras tentativas, desde de remédio, terapia, mudanças bruscas de vida, e ela, insiste em tomar fermento, crescer, explodir, me atirar para todos os lados, fazer de mim corredora da vida, às pressas, sem jeito, metade louca, metade mulher.

Porém, e sempre tem um, porém, ultimamente, tenho ficado muito ansiosa, como de praxe, mas também muito tranqüila, com a vida calma, com o coração carinhosamente calmo, com vícios moderados, e o melhor, tenho ficado disposta. Sim. Essa palavrinha querida usada pelo Chef para me avaliar, coube direitinho neste meu momento e eu fiquei feliz de ouvir isso de outra pessoa.
É bom acordar cedo, ter mil atividades, fazer coisinha, namorar, tomar cervejinha, gostar de ver a sexta-feira chegar, encontrar os amigos, ouvir um samba, fazer comidinhas. É bom alugar um filme, mas não quinhentos filmes e ficar o dia inteiro na frente da TV. Falando nela, minha TV, dia desses, queimou. É, pifou, apagou de vez, não liga mais. Aí eu penso que tudo tem seu tempo, num processo louco e maluco. Quem me conhece sabe de minha miopia, sabe como eu ficava com a cara grudada sentindo o calor da TV na minha cama vendo as horas passarem sem nenhuma disposição para atacar o mundo. Então, certa vez, numa tentativa de mudança, afastei bem longe da tv do meu rosto, para o outro lado do quarto e tudo foi melhorando. Então, eis que ela morreu, longe de mim, sem que eu pudesse sentir sua falta. Morreu e tudo bem, quem precisa dela mesmo?

Eu não tenho muitas supertições, não acredito em horóscopo, nem em cartas de tarô. Mas, eu adoro fazer metáforas psicológicas do equilíbrio da minha vida, com fatos bestas que acontecem no meu cotidiano. Como o quebrar da TV, no exato momento em que eu tenho uma disposição reconhecida e um companheiro para matar meu tédio.
Além disso, conto com novas pessoas ao meu redor e com um resgate que tenho feito de antigas amizades, numa tentativa de cercar mais meu coração de pessoas queridas, que valem a pena.Já outras, as que sumiram do mapa, talvez pra sempre se percam, e talvez isso, pode ser um ato frio de minha parte, mas não me fará falta alguma. Gosto dos sentimentos transbordados, das coisas quentes e dos abraços apertados e verdadeiros. Mas gosto também do respeito. Das visitas com cigarrinhos e cervejas e de novas pessoas que o tempo encaixa na nossa trilha. E também, das velhas intimidades.

Ganhei, perdi, ganhei, perdi, perdi, ganhei, ganhei.
Muitas vezes não fui, muitas vezes eu era a peça do quebra cabeça que não encaixava em parte alguma, muitas vezes a falta de meu pai, fez com que eu caísse como quem esperava por ele no meio do escuro. Muitas vezes, era difícil ficar de pé.Literalmente. E muitas vezes também, minha cabeça funcionava a três mil por hora e eu achava que ia ser atropelada por meus pensamentos confusos, sem nexo. Muitas vezes era difícil me olhar no espelho, fazer um texto com pontuação, decorar um bolo sem pressa. Acordar e cumprir com a vida.
Hoje, muitos são feitos aos poucos, e muitos deles, com carinho também. E pela primeira vez, e quem me lê sabe disso, pela primeira vez, ai que meda, esta tudo bem...
Igual àquela frase no meu braço direito, que seu cruza-lo, vai direto ao coração.